21/09/16

... dar a provar ...



"...le beau est aussi utile que l'utile. – il ajouta après un silence: plus peut-être..."
victor hugo 

... a moda dos petiscos parece ter voltado como modelo comercial e de moda. perceber um "petisco" na cozinha portuguesa é perceber a sua essência. noutras paragens o "petisco" é um prato criado de raiz. as tapas são um exemplo disso. cá, a história da nossa cozinha reza outra coisa. eram "aproveitamentos" ou simplesmente foram formas de conservação que se transformaram em algo para petiscar. oferecidas, como brinde, acolhimento ou momento de confratenização entre os comensais são tudo aquilo que representa a essência da nossa cozinha. simples de fazer, sem grandes elaborações mas bem temperadas. para serem um regado. ganha a palavra petisco algo de mimoso. adjectiva, a partir desse momento, quem cozinha. antigamente ouvia-se: você faz cá cada petisco... isso perdeu-se. essa adjectivação, pois os petisco passaram a produto e como tal o lado de simpatia foi-se. há algo na prova que revela logo o que nos espera nos pratos seguintes. é se está "bem apurado" ou "puxado". se o sabor se "deixou estar" ou foi algo feito na pressa. nada mais revela tudo sobre um cozinheiro do que a forma como este acolhe quem o visita com uma mesa dessas iguarias sem igual. das favinhas às saladinhas. tudo cheio de diminutivos pois ajuda à surpresa do sabor que espera quem come. agora que tenho o desafio de uma primeira carta penso que nada mais me dá o prazer que dá fazer destas coisas simples que criam momentos. brindar quem visita com sabores genuínos é fundamental. acolhe, abraça, acarinha quem vem até nós para comer. e expõe a cozinha. abra as portas. diz o que espera quem vem saber o sabor das coisas que vamos fazer. apresentar, como modernamente se diz. e nós, na cozinha, dizemos porque estamos ali dentro, e como estamos ali dentro, num simples pratinho branco com coisas simples...


Sem comentários: